Quase 35% dos brasileiros nunca foram ao oftalmologista

14 de setembro de 2020
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Cultura de prevenção ausente, pobreza e falta de acesso a médicos piora cenário no país, que tem 1,1 milhão de cegos e 4 milhões com deficiência visual séria.

Quando procurou um oftalmologista, a assistente social Iara Barbosa, 68, buscava tratamento para um problema que já não podia mais adiar: a catarata, que causa opacidade da lente natural do olho. Primeira maior causadora de cegueira no país, a doença afeta até 2 milhões de pessoas por ano, principalmente aquelas com mais de 60 anos – mas é tratável e reversível. Na consulta, Iara foi diagnosticada também com a síndrome do olho seco, quando as lágrimas não fornecem a umidade adequada ao órgão.

Como muitos brasileiros, Iara não tem o hábito de fazer visitas preventivas a médicos oftalmologistas – de acordo com pesquisa do Ibope divulgada em 2019, cerca de 34% da população nunca consultou especialistas do ramo – uma cultura que pode trazer danos à saúde ocular da população. “Nessas consultas, poderíamos prever doenças e evitar lesões. O paciente que não faz prevenção pode chegar, inclusive, a perder a visão”, sustenta Rodrigo Pegado, membro da Sociedade Brasileira de Oftalmologia.

Para ele, “um comportamento preventivo ainda é muito segmentado”. “Há uma deficiência imensa em termos de acesso da população e, entre outros problemas, carência de campanhas de conscientização”, comenta.

De fato, a Organização Mundial da Saúde (OMS) estima que até 75% de todas as causas de deficiência visual possam ser preveníveis ou curáveis. Segundo a entidade, há, no país, 1,1 milhão de cegos (0,6% da população estimada) e cerca de 4 milhões de pessoas com deficiência visual séria.

Os tratamentos da doença vão desde o uso de óculos ou lentes de contato, até procedimentos a laser, cirurgia e, em alguns casos, transplante de córnea. Então a principal mensagem a ser transmitida é que as pessoas saibam que não podemos coçar ou esfregar os olhos intensa e repetidamente, ressalta a médica.

Foi ao fazer a consulta que Iara se viu livre não só da catarata, mas também de um incômodo que a acompanhava havia anos. “Meu olho parecia estar cheio de areia, isso todos os dias, durante 24 horas. Eu fechava o olho e não tinha alívio. Pingava colírio o dia inteiro, e logo a agonia voltava”, lembra. Foi aconselhada a passar por um tratamento feito em consultório, o E-Eye.

“Trata-se de um equipamento que emite luz pulsada policromática sobre as glândulas meibomianas (responsáveis pela produção de lipídios e proteínas da lágrima) inativas ou obstruídas. Ao receber esses estímulos, as glândulas voltam a funcionar, devolvendo qualidade à lágrima”, explica Leonardo Gontijo, diretor do Instituto dos Olhos de Minas Gerais e professor de oftalmologia na Faculdade de Ciências Médicas da UFMG. Iara precisou de quatro sessões até que alcançasse uma melhora, mas ainda precisa fazer sessões anuais.

Gontijo lembra que, nos últimos anos, a síndrome se tornou mais comum. “Ao usar um computador ou celular, por exemplo, a média de piscadas cai para seis vezes por minuto (o normal são 20), prejudicando a lubrificação ocular”, revela. Envelhecimento, menopausa, poluição, ar-condicionado, lentes de contato e uso de alguns medicamentos descongestionantes, anti-histamínicos, tranquilizantes, diuréticos, benzodiazepinas, analgésicos, anticoncepcionais e antidepressivos são outros fatores de risco para a doença.

Se, no caso de Iara, o problema era de menor gravidade, Gontijo lembra que algumas doenças que levam à cegueira têm sintomas discretos, e, por isso, é comum que a busca por tratamento se dê tardiamente. Caso do glaucoma, quando, geralmente, devido à alta pressão ocular, o nervo que liga o olho ao cérebro é danificado – por ano, 150 mil brasileiros são diagnosticados com o problema.

“O paciente nem sempre sente dor ou náusea (sintomas da doença). E ele pode não perceber a perda de visão, porque é um problema que começa perifericamente. Ao olhar para frente, pode parecer que está tudo bem”, situa Gontijo, lembrando que, neste caso, a cegueira é irreversível. “Daí a importância de consultas periódicas em que se faça o monitoramento da pressão ocular”, reforça o médico.

Para Rodrigo Pegado, membro Sociedade Brasileira de Oftalmologia, é urgente que se comece a pensar em prevenção quando se fala em problemas oculares. Além de consultas, um comportamento mais cuidadoso é fundamental. Entre ações rotineiras que minimizam o risco de doenças, lavar as mãos e evitar tocar os olhos estão entre elas. No verão, cuidado redobrado.

Atenção também para crianças e adolescentes. “O astigmatismo pode ser corrigido com óculos, mas, quando isso não é feito até os 7 anos, período em que ocorre a formação cerebral da visão, o órgão pode aprender a enxergar com aquela ambliopia – e aí não tem mais como corrigir”, diz.

A identificação de problemas de visão em crianças deve ser feito não apenas em casa, mas também nas escolas. “Às vezes, por não enxergar bem, os estudos ficam prejudicados”, cita. O médico lembra ser importante levar os bebês ao oftalmologista, principalmente, ao nascer, para o “teste do olhinho”, que identifica doenças congênitas. Novas consultas podem ser feitas durante o processo de alfabetização.

No caso de adolescentes, ele recomenda atenção às queixas ou, se ele fizer uso de óculos ou lentes de contato, anualmente.

A partir dos 40, é importante que se monitore a pressão ocular e que se faça a avaliação do fundo do olho – capaz de identificar o diabetes, algumas doenças dermatológicas e degenerativas, sendo possível verificar até mesmo a evolução do Alzheimer.

FONTE: O TEMPO





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